quarta-feira, 31 de agosto de 2011

A presença do nada.


          Por diversas outras vezes eu escrevi motivada pela saudade, alegria, tristeza, raiva e uma certa ilusão de amor (sim, ilusão), sempre escrevi tomada por algum sentimento seja ele justo ou não.  Hoje não é diferente, escrevo movida pelo nada.
Sim, o nada é um sentimento. Nada é tão ruim, nada é tão bom, tudo se vai levando.  Ouvi  de uma amiga uma vez que não sofrer, não sentir dor pra ela já é o bastante e eu, claro, nunca concordei com a afirmativa.                É vazio, sentir o nada.  
           E não, não me acho uma pessoa  vazia. Sou cheia, cheia de coisas que eu não queria ser, cheia de duvidas sobre quase tudo, cheia de inúmeras idéias e pensamentos que mudam mais rápido do que algo que mude bem rápido, não consegui pensar em nada agora.
Insisto na idéia do nada ser um sentimento, ou pelo menos uma evolução de outros pequenos sentimentos e impressões.  A minha indignação, minhas duvidas, minhas criticas evoluíram para o nada e esta evolução não induz em uma melhora, mas apenas em mudança.
           O nada não significa que perdi tudo isso, que não tenho reações para o que me acontece e o que acontece ao meu redor.  Pelo contrário,  o nada me faz discutir, brigar e defender  tudo com um pouco mais de ânimo. Difícil de entender? Nem me fale.
           Não acho que o que eu estou escrevendo faça sentido para alguém além de mim e também não acho que isso importe muito.
          Na verdade, esse nada me deixa bem cheia, cheia de tudo isso, de todos e de um nada. Não estou vazia, estou repleta de medo, o medo de ficar igual aqueles que hoje me rodeiem. De ficar igual a tudo o que eu sempre trabalhei para não ficar. Deus nos livre, deus me livre. A não.

6 comentários:

  1. Aí sim!! :D:D
    Preciso nem dizer que eu AMO o que vc escreve, né?
    =)

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  2. Uma pitada temática de Nietsche, tomada narrativa estilo Clarice... Vc anda lendo muito isso ou seu talento é pura coincidência. O que importa é que, cara Hilde (ref. O mundo de Sofia) o nada sugere o caos de onde tudo se reconstrói!
    Beijo filosófico,
    Dfemme ;)

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  3. dfemme,

    Seu comentário me causou uma curiosidade absurda. Quem é você ? E Obrigada pelas comparações. Usuário desde setembro de 2011. Recente, hum. Intrigante.

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  4. O nada é instigante. Pois não se classifica, simplesmente.
    O nada é um dos sentimentos que mais ressaltam a nossa humanidade. A partir de que assumimos a posição de humanos começamos a buscar. E, bem... “esse nada me deixa cheia, cheia de tudo isso, de todos e de um nada”.
    Quando não reconhece. Nada. Ou toca ou não toca. E surpreende quando não se toca. Nada.
    Isso é difícil digerir, tudo.
    Não sei se fez algum sentido.

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  5. Posso aqui fazer uma comparação que eu sempre faço a esse respeito.

    O nada e o tudo. Entre o nada e o tudo, existe alguns dP, onde dP seria "partes infinitesimais" que somadas dão o tudo, ou o nada, como queria interpretar.

    Compare-se os Nada com o Preto, e o Tudo com o Branco. Ou vice-versa.

    Qdo vc está vendo algo branco, vc acha que está vendo algo realmente branco? Não, vc está vendo a junção de todos os "dP", ou seja, o que é Branco, é uma mistura de tudo, mas não tudo o q ela é, tudo o que ela reflete, o leite é branco naõ pq ele é branco, mas pq todas as cores que chegam nele, ele reflete e ela chega aos nossos olhos (lembra-se do arco de cores de Newton, q ao girar fica branco? Então.)

    Mas o mais impressionante é que o q é preto, ele é realmente tudo, verdadeiramente tudo, ou como interpretam, ele é o nada. Depende do seu ponto de vista.

    Algo preto, um carvão, na verdade, ele absorve todos os dP, todas as cores, todas as luzes, pega pra si, e naõ reflete nenhuma, por isso ele é tão somente, algo preto, é a ausência de cor, mas como é ausência, se ele absorveu todas? Intrigante não, é?

    O que deixo aqui pra você, Nathália, é que, o Branco e Preto, ou o Tudo e Nada, como queira, variarão conforme vc vê, enxerga, observa e interpreta.

    No final, a decisão do que é Tudo ou Nada, é vc quem faz.

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  6. Depois de uma baita aula de Antropologia, eu preciso retomar e quem sabe fique mais claro o que eu tentei expressar antes. E vou precisar da Antropologia pra isso.

    A Antropologia dita clássica separa o mundo entre nós e eles, civilizados e primitivos, complexos e simples, entre outros, com as devidas aspas, mas que em determinada época classificou este saber como científico. Porém, a Antropologia é crise. Então, e não poderia ser diferente, questiona-se sobre o que é efetivamente fazer Antropologia e não sei se algum antropólogo saiba dar uma resposta final à isto definitivamente, mas eu gosto disso. Mas, se tem um pressuposto, seria o de ver o ser humano pelo ser humano, ou seja, através do contato com o outro compreender as multiplicidades (eu existo a partir do outro). E quando estruturamos o nosso pensamento, de alguma forma, neste sentido (não é determinante estudar Antropologia para isso) se deixa ser afetado.

    Quando nos vemos enquanto cultura, portares de uma série de características histórico-sociais determinadas e determinantes, começamos a ser afetados e, de alguma forma, isso reflete-se neste nada. O nada que não é o vazio, é sim um sentimento. Percebemos uma série de características que vistas de fora podem ser tão ou mais absurdas do que àquelas que consideramos absurdas nos outros. Absurdas aqui podendo ser outros diversos sentimentos. As estruturas parecem perder seus castelos invioláveis e inquestionáveis e assim surge o nada. E aí, nós somos nada.

    Aceitar ser afetado supõe que se
    assuma o risco de ver ser projeto
    de conhecimento se desfazer. Pois
    se o projeto conhecimento for
    onipresente, não acontece nada
    (FAVRET-SAADA, 2005, p. 160).

    Inquietações nos movem. E, por favor, continue com as promoções.

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