terça-feira, 5 de outubro de 2010

Eu quero a minha liberdade

                  
                 Dia desses enquanto eu discorria sobre o direito constitucional à liberdade, parei pra pensar que esse,  apesar de ser considerado fundamental pelos colegas de trabalho do Tiririca, digo, pelos legisladores, não passa na verdade de uma norma hipócrita.
                  Vivemos com uma falsa sensação de liberdade.  Já percebeu? 
               Ninguém tem liberdade pra nada, nunca.  Vejamos, você pode chamar um caucasiano de : ‘ branquelo ‘, ‘leite ninho’, ‘boneco de neve’ e não tem problema algum.  Ou tem? Agora experimente chamar um negro de ‘negão’. Você que acha que vive em um país livre, mas não pode expressar o óbvio sem responder criminalmente por isso.
                Acabamos de presenciar neste ultimo final de semana o maior exemplo de ausência de liberdade, a maioria dos brasileiros, não me incluo aqui, não vota pra exercer um DIREITO cívico, mas por uma obrigação legal. Cadê a liberdade? Cadê?
                Cadê meu direito de andar de havaianas no shopping Iguatemi sem que pensem que é um assalto?
              Cadê meu direito de não dar bom dia ao chegar no trabalho sem que pensem que eu sou mal comida ? Cadê meu direito de beber e dançar funk ?
                Não tem. Não existe.
                A liberdade foi tirada de nós no momento em que nascemos e é assim até hoje. Por que não posso ter amigos sem ter necessariamente que estar pegando algum deles ? Por que eu não posso morar sozinha sem que uma tia velha e ' bem casada' ligue pra saber se estou feliz? Por que eu não posso estar solteira e não querer casar ? Por que eu não posso transformar meus amigos na minha família?  E se eu quiser eles na minha certidão de nascimento? Olha que.... nada não.
                Eu sei que nada é absoluto e que deve haver restrição para que vivamos de forma razoavelmente organizada, mas FODA-SE.
                Eu quero a minha liberdade. Quero poder amar pessoas que eu AINDA não conheço, quero poder dizer que não gosto de religião e não vou a igreja mais e que nada de mal vai me acontecer por isso.
            Quero poder largar meus 4 empregos e não ter que me preocupar com as contas ao fim do mês.  Quero beber todo dia olhando a praia e não morrer de cirrose.
                Não quero ouvir que meus planos/sonhos/desejos não vão acontecer. Não quero ter que gostar ou não gostar de alguma coisa, eu posso achar mais ou menos. Ou não ?
                Desconfio que não exista uma pessoa livre, realmente livre e contrario o pensamento de Luis Fernando Veríssimo, nem quem não tem medo do ridículo é livre.
                Que tenhamos menos limites e sejamos mais livres. Eu encontrei a minha pseudo, porém feliz liberdade, o meu novo ‘trabalho’, que está cerca de 427 km daqui.  E desse trabalho eu não quero férias.
   Boa sorte na sua busca. 

Um comentário:

  1. Estive lendo um artigo e lembrei daqui. Achei que fosse pertinente postá-lo. Dizia, entre outras coisas, o seguinte:

    Viver é decidir sobre as várias opções que as situações diárias nos apresentam, e a decisão implica em liberdade de escolha. Porém, essa liberdade sofre a limitação de circunstâncias sobre as quais não temos o menor controle. [...] "O fato de que a liberdade de escolha não garante nossa liberdade de efetivamente atuar sobre estas escolhas, nem assegura a liberdade de atingir os resultados almejados. Mais que isso, demonstramos que o exercício de nossa liberdade pode ser um limite à liberdade alheia. Para sermos capazes de agir livremente, precisamos ter muito mais que livre-arbítrio" (BAUMAN; MAY, 2010, p. 36).
    Não podemos deixar de perceber que agimos condicionados pelas experiências que acumulamos no passado. Como nos socializamos via grupos sociais, estes também limitam o espectro de opiniões que podemos suportar. Nossas ações e percepções acerca de nós mesmos são desenhadas pelas expectativas dos grupos dos quais fazemos parte.
    [...] O eu pode ser pensado em termos de conversação, na qual a consciência que formamos de nós mesmos é tributária das respostas de outrem. "Nosso caráter é, assim, construído pelo tratamento de nós como objeto de nossas próprias ações, uma vez que elas são compreendidas pelas respostas dos outros a nossa performance" (BAUMAN; MAY, 2010, p. 42). Esse processo abre espaço para a socialização do indivíduo.
    No caminho de formação do nosso eu vivemos espremidos na contradição entre liberdade e dependência. Falando de outro modo: é a luta interior entre o que queremos e ao que somos forçados a empreender em razão da presença dos outros. Como válvula de escape, realizamos seleções em nossos ambientes, ou seja, escolhemos grupos de referência. Esses grupos fornecem parâmetros para avaliarmos nossas ações e apresentam um quadro de padrões comportamentais aos quais aspiramos. Isso nos dá sensação de segurança, pois somos confrontados cotidianamente com obstáculos que colocam em xeque nossas expectativas.
    [...]
    Buscamos o tempo todo justificativas para nossas ações. Geralmente explicamos os resultados de uma ação sob o prisma da inevitabilidade. Entretanto, esquecemos que os eventos não podem ser vistos como inevitáveis. São frutos de escolhas, das nossas escolhas. É chover no molhado afirmar que agimos conforme nossos propósitos. O que chamamos de conduta habitual nada mais é do que a sedimentação dos conhecimentos aprendidos com o passado. A liberdade que possuímos pode ser medida em termos do que podemos fazer e o que está fora do nosso alcance, e, quais os recursos que mobilizaremos ou não nesse empreendimento.

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