sábado, 26 de março de 2011

Bobeira é não viver a realidade

Abrir mão das coisas que se quer fazer por alguém não é bom, não é certo. O problema é que quando nos importamos , gostamos mesmo de alguém , acabamos por priorizar as vontades dessas pessoas, seja em relação de amizade, amor ou familiar. É difícil dizer não, é difícil se impor, ainda mais quando existe uma dependência envolvida, financeira, sentimental e moral. Eu por muitas vezes deixei  de fazer as coisas pra agradar ou não magoar alguém, fiz isso durante muito tempo. Mas, os anos passam, você se desilude, se irrita e percebe que não vale a pena e que ninguém vai pensar duas vezes em te dizer não, quando o interesse deles se sobrepuser aos seus sentimentos.   
Se você é uma dessas pessoas que faz de tudo pelos outros e quase nada por si mesmo, um aviso: Não vivemos naquele país que o Saramago descreve nas ‘ Intermitências da morte’, aquele que ninguém morre, sabe ?  Só temos uma vida, uma só e que se vai sem data determinada. Viva ela intensamente, do jeito que você entende correta, porque se arrepender por escolhas nossas é triste, mas se arrepender de uma vida guiada por outras pessoas além de triste é covardia. Não, não te acho covarde. Tudo tem o seu tempo, mas não deixe de aproveitar a vida, a sua vida. Sim, ela é sua, juro.
E se hoje, justamente hoje , que você deixou de sair pra agradar alguém que nem vai querer desfrutar da sua companhia, fosse o dia que você conheceria o amor da sua vida ou aquele amigo que pode ser seu ombro pra vida inteira , ou até mesmo conhecer alguém que arranque um único e sincero sorriso seu, valeu mesmo a pena ? Valeu ?  E por  que você, logo você, tem que abrir mão de tudo. Os outros não podem abrir mão do falso moralismo por você ? É, eu quero sim te ver feliz.
E como diria o poeta : Bobeira é não viver a realidade! 

5 comentários:

  1. Clarice Lispector já disse tudo e eu não poderia dizer melhor.

    Eu sei que a gente se acostuma. Mas não devia.
    A gente se acostuma a morar em apartamentos de fundos e a não ter outra vista que não as janelas ao redor.
    E porque não tem vista, logo se acostuma a não olhar para fora.
    E porque não olha para fora, logo se acostuma a não abrir de todo as cortinas.
    E porque não abre as cortinas logo se acostuma a acender cedo a luz.
    E a medida que se acostuma, esquece o sol, esquece o ar, esquece a amplidão.
    A gente se acostuma a acordar de manhã sobressaltado porque está na hora.
    A tomar o café correndo porque está atrasado.
    A ler o jornal no ônibus porque não pode perder o tempo da viagem.
    A comer sanduiche porque não dá para almoçar.
    A sair do trabalho porque já e noite.
    A cochilar no ônibus porque está cansado.
    A deitar cedo e dormir pesado sem ter vivido o dia.
    A gente se acostuma a esperar o dia inteiro e ouvir no telefone: hoje não posso ir.
    A sorrir para as pessoas sem receber um sorriso de volta.
    A ser ignorado quando precisava tanto ser visto.
    A gente se acostuma a pagar por tudo o que deseja e o de que necessita.
    E a lutar para ganhar o dinheiro com que pagar.
    E a pagar mais do que as coisas valem.
    E a saber que cada vez pagará mais.
    E a procurar mais trabalho, para ganhar mais dinheiro, para ter com que pagar nas filas em que se cobra.
    A gente se acostuma a poluição.
    As salas fechadas de ar condicionado e cheiro de cigarro.
    A luz artificial de ligeiro tremor.
    Ao choque que os olhos levam na luz natural.
    As bactérias de água potável.
    A gente se acostuma a coisas demais, para não sofrer.
    Em doses pequenas, tentando não perceber, vai afastando uma dor aqui, um ressentimento ali, uma revolta acolá.
    Se a praia está contaminada a gente molha só os pés e sua no resto do corpo.
    Se o cinema está cheio, a gente senta na primeira fila e torce um pouco o pescoço.
    Se o trabalho está duro a gente se consola pensando no fim de semana.
    E se no fim de semana não há muito o que fazer a gente vai dormir cedo e ainda fica satisfeito porque tem sempre sono atrasado.
    A gente se acostuma para não se ralar na aspereza, para preservar a pele.
    Se acostuma para evitar feridas, sangramentos, para poupar o peito.
    A gente se acostuma para poupar a vida.
    Que aos poucos se gasta, e que gasta de tanto se acostumar, e se perde de si mesma.

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  2. Não estou a altura de um comentário assim. Colocar Clarice Lispector na mesma página que se encontra um texto meu, é heresia. Hoje foi o dia que ela deu duas voltas no caixão.

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  3. Modéstia sua. Tenho certeza que não. Ela deve é estar exultante, isso sim.

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  4. Nat é fera, Clarice deve estar sambando no caixão, de alegria. Claro.

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